EDITORIAL

SUPER AÇÃO (ou texto para se ler em tomada única)

 

O que te move? Seu filme é filme ou é portfólio? Por que filmar em Super 8?

O Super OFF chega a sua sétima edição, no mês de novembro de 2020, a exemplo de sua primeira edição em 2014, repetindo as mesmas perguntas.

Em um ano marcado por tragédias, estar de pé é uma grande vitória. Quantos festivais sucumbiram e foram suspensos, cancelados, ou simplesmente não acontecerão mais? Mais do que isso, quantas pessoas nunca mais terão privilégio de ir a um festival? De ver e de vivenciar a beleza de uma sala de cinema? Todas as nossas diferenças filmadas nos tornaram indiferentes?

Realizar essa sétima edição é sem dúvida o nosso maior desafio. Estamos acostumados ao calor do projetor na sala de exibição, às apresentações e performances ao vivo que tanto nos marcaram e nos fizeram chorar. Tantos bons encontros, tantos abraços que nos alfabetizam e nos reeducam nesse mundo cada vez mais individualista e polarizado.

O Super OFF, cuja  maioria dos filmes é feito por mulheres e por uma população periferico-cinematográfica, passou a entender que nos filmar e nos assistir é o nosso jeito mais belo de fazer política. Um grito contra o extermínio velado de nossas minorias e contra todas as mazelas de um estado que nos oprime, não poderia deixar de acontecer. Estar com uma câmera na mão é um ato de valentia, mesmo estando em casa! Se filmamos em tempos sombrios é para respirar. O ato de filmar nos faz sentir vivos!

O pixel precisará se converter em grão por esses dias, porque nós vamos exibi-los. A potência aqui,  além do formato em película é e sempre será conectar pessoas. Continuemos pois.

Que tiremos proveito de nossos isolamentos e hipnoses digitais para em breve filmar muito mais.

Em um ano com mais lives do que filmes na geladeira, nos resta o diálogo. Entender o que filmar e porque filmar. Fica o convite para que nesses dias possamos olhar nossos filmes e mais do que isso, olharmos uns nos outros. 

Por um cinema mais amigo que inimigo, mais horizontal que suicida, mais plural que muscular, mais quente do que morno e mais politizado que polido.

Temos um caminho longo pela frente. Um viva aos heróis de tempo presente que nos aplainaram caminhos e nos deixaram melhores.

Em menos de cinco anos, perdemos o chefe do navio, Leandro Bossy Ship (Curta 8), o querido Clóvis Molinari (Super 8 – Tamanho também é documento) e agora nosso guerreiro dos cineclubes e dos livros de cinema, que nos presenteou com um dicionário único (Super 8 no Brasil: Um Sonho de Cinema) na história do Cinema Super 8 Mundial. Lá se vai Antônio, nosso Leão.

Se a gente puder escrever e filmar até morrer, que aproveitemos essa oportunidade única de vida. 

As películas durarão. Os filmes ficarão. 

Nós não! 

 

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SUPER ACTION (or text for read on Single take)

What moves you? Is your film a film or a portfolio? Why shoot in Super 8?

Super OFF reaches its seventh edition, in November 2020, following the example of its first edition in 2014, repeating the same questions.

In a year marked by tragedies, standing is a great victory. How many festivals have succumbed and been suspended, canceled, or will they just not happen anymore? More than that, how many people will never again have the privilege of attending a festival? To see and experience the beauty of a movie theater? Did all of our filmed differences make us indifferent?

Making this seventh edition is undoubtedly our biggest challenge. We are used to the warmth of the projector in the exhibition hall, to the presentations and live performances that have so marked us and made us cry. So many good meetings, so many hugs that make us literate and re-educate us in an increasingly individualistic and polarized world.

Super OFF, whose majority of films are made by women and a peripheral-cinematographic population, has come to understand that filming and watching us is our most beautiful way of doing politics. A cry against the veiled extermination of our minorities and against all the ills of a state that oppresses us, could not fail to happen. Being with a camera in your hand is an act of bravery, even at home! If we shoot in dark times it is to breathe. The act of filming makes us feel alive!

The pixel will need to convert to grain these days, because we are going to display them. The power here, in addition to the film format, is and will always be connecting people. So let’s continue.

Let us take advantage of our isolations and digital hypnosis to soon film much more. 

In a year with more lives than movies in the fridge, we have dialogue. Understanding what to shoot and why to shoot. The invitation remains so that during these days we can watch our films and more than that, look at each other.

For a cinema more friendly than enemy, more horizontal than suicidal, more plural than muscular, hotter than lukewarm and more politicized than polished.

We have a long way to go. Long live the heroes of the present time who have smoothed our paths and made us better.

In less than five years, we lost the ship’s boss, Leandro Bossy Ship (Curta 8), the dear Clóvis Molinari (Super 8 – Tamanho também é documento) and now our warrior of the cinema clubs and cinema books, who presented us with a unique dictionary (Super 8 in Brazil: A Dream of Cinema) in the history of worldwide 8mm cinema. There goes Antonio, our Lion.

If we can write and film until we die, let us take advantage of this unique opportunity in life.

The films will last. The films will stay.

We do not!