CRIANÇAS NO RIO
[ 12’33’’. 2016 . BRASIL ]
Sinopse: As crianças e seus rios… Esse filme curta-metragem surge de um passeio pelos rios e córregos que passam nos bairros da periferia de Londrina-PR, fomos conduzidos pelas crianças das comunidades visitadas e sua relação com essas águas.
As filmagens foram realizadas em 2016, durante as ações do projeto Festival A MARÉ, organizado pelo MARL – Movimento dos Artistas de Rua de Londrina e diálogo com as comunidades dos Conjuntos Avelino Vieira, Vista Bela, Novo Amparo, Saltinho, Luiz de Sá e Vila Marísia, na periferia da cidade de Londrina-PR.
Realização – Movimento dos Artistas de Rua de Londrina / Festival A Maré
Direção de Produção – Núcleo Ás de Paus / Cia. Teatro de garagem
Fotografia – Luis Henrique Mioto / Fagner Bruno de Souza / Jaqueline Vieira / Lucas de Godoy Chicarelly
Depoentes – Crianças das comunidades periféricas de Londrina-PR / Dona Elisa / Luiz Otávio F. dos Santos
Trilha sonora – Grupo SER
Financiamento – Programa Municipal de Incentivo a Cultura (PROMIC)
Gênero: Documentário
Direção: Luis Henrique Mioto
País: Brasil
Classificação: Livre
Duração: 12’33’’
Ano: 2016
Curadoria: Fran Camilo
Afeto, memória e cinema
Há anos – mais precisamente desde 2004 – o cineasta Luis Henrique Mioto coordena um projeto em Londrina-PR, que “busca discutir, estudar, pensar, propagar os mundos do cinema e realizar, incentivar e ajudar criações artísticas cinematográficas”. Chamado de “Ahoramágica”, o projeto começou como um Cineclube, apesar de nunca ter se prendido de fato a somente a isso, vide todas as oficinas e cursos de cinema, documentário e todos os filmes produzidos.
Em 2016, o grupo passou a se chamar finalmente “Ahoramágica cinema & memória”, assumindo uma proposta que sempre esteve vinculada em suas pesquisas, a relação entre os dois conceitos “cinema” e “memória”. Principalmente focado na “memória de comunidades” ou “memórias periféricas” e por meio da linguagem do documentário e da poesia, porque não há como assistir a um filme do Luis e não ser levado pela poesia que ele transborda a partir da imagem, edição, sons e palavras…
“Crianças no rio”, curta-metragem de 12’29’’ emana essa poesia, numa câmera leve que segue o olhar atento e as palavras sinceras das crianças, é possível adentrar naquele espaço/mundo que é a vida e a memória afetiva delas com os rios que cortam as comunidades dos Conjuntos Avelino Vieira, Vista Bela, Novo Amparo, Saltinho, Luiz de Sá e Vila Marísia, na periferia da cidade de Londrina-PR.
É quase impossível não ficar hipnotizade com uma das primeiras cenas do filme em que uma criança pega carona de bicicleta na traseira do carro onde a câmera estava. É tanta informação subjetiva que a gente quase quer morar na cena. O menino que olha pelo retrovisor do carro, encara a câmera, que tem ele no foco, mas consegue abarcar todo o entorno, as casas, os prédios, o ônibus, o ponto de ônibus, os carros, as motos, as pessoas andando na rua, a rua e o movimento intenso daquele bairro. É poesia em movimento!
Em seguida somos levades por essa criança e outras que chegam, para conhecer o “paraíso” delas: o rio. Até lá, vemos muita sujeira, lixo, poluição. O que nos vem é “que perigo nadar nesses rios poluídos”. Mas para elas, as crianças, apenas diversão, desafio e aventura. A rua também vira rio quando chove, a enxurrada que desce por conta dos bueiros entupidos, também é diversão para as crianças.
O filme, apesar de dirigido e editado pelo Luis, foi realizado em um processo bem coletivo, característica primordial da Ahoramágica. As filmagens foram realizadas em 2016 durante as ações do projeto Festival A MARÉ, organizado pelo MARL – Movimento dos Artistas de Rua de Londrina de circular nos bairros, com cortejos e atividades com as comunidades. O filme em si, não estava nos planos, apesar de todo o cortejo ser baseado nos rios da periferia.
Após o término do Festival a ideia acabou por engavetada e as imagens arquivadas. Somente em 2019, quando Luis se mudava de Londrina que ele resolveu retomar o projeto, como um último movimento, uma despedida da cidade. E por conta desse momento de alta sensibilidade, como ele mesmo afirmou, o filme ganhou esse tom azulado e melancólico, mas de uma potência poética absurda, unida à trilha sonora que é outro destaque, pela singeleza e calmaria que a música nos transporta para aquela Hora Mágica.
“Crianças no rio” é memória e afeto em forma filme. Uma vídeo-poesia que diz muito com tão pouco. Com tanta simplicidade e delicadeza, guarda nesse pequeno espaço de tempo, os versos, as cores e a fluidez do brincar, do ser criança. Independente de onde estejam, no centro, no campo, na periferia, crianças são sempre crianças, mas o rio que por elas passam nunca será o mesmo.